2004-06-06

Show do Caetano Veloso. Ele está cantando umas músicas estrangeiras para seu séqüito modernoso. Uma coroa grita “Paixão Nacional” e ele entende “Canção Nacional” e fica descompensado. Aí, segundo a Marisa Orth, começa a se destemperar e fazer uns sinais estranhos para a platéia. Tisc, Tisc.
Para os amigos que comentam “puxa, o que houve com o Caetano que era tão legal e ficou um porre?” eu digo: Olhe, ele nunca foi legal, a gente que era besta. É que nem música étnica e filme do Almodóvar. Bonitinho, porém ordinário. Que nem essas cromoterapia, cheiroterapia e essas coisas dos empurropatas ocidentais.
Uma vez (olha a história) o Paulo Gorgulho me arrumou um convite para um Show do Caetano. Primeira fila. Como o lugar era bom, a Patrícia Pillar veio e sentou-se conosco. Fiquei sabendo depois que era ela, pois não a reconheci. Eu sou um bicho-do-mato para essas coisas. Primeira música: “Terra”. Ele bateu o sol maior e entrou no recitativo a capella. Quando voltou a melodia ele deu o Dó, mas tinha baixado a afinação enquanto tocava sem o acompanhamento. Ficou gozado porque bateu a afinação quase meio-tom e ele deu aquela consertada horrível. Que a orelha esquerda torce junto sozinha, que nem uma cravelha de violão. Já balançou na primeira música. Mas foi indo. Ele dá umas risadas estranhas; você pensa que ele está rindo, mas é só o jeito de abrir a boca para cantar porque os olhos não acompanham e a expressão acaba de repente que nem uma careta. Daí uma hora ele começou a cantar “Cidade Maravilhosa”, novamente só voz e violão. Ele toca legal, é divertido - mas ele não é violonista, né? Cantou uma, duas vezes, três vezes e ficou naquele chá-cum-dum, dum dum. Repetindo o refrão. Aí deu aquela vontade em todo mundo de ajudar e começou o clap, clap das palmas no tempo forte. Embaçou geral. Aí ele fala no microfone: “Não batam palmas não, porque é muito feio.” Silêncio gradual. Qual a pior coisa que se faz nessa hora? Tentar consertar. E ele tentou. Aí começou a falar umas conversas de que aquela música era uma espécie de hino e coisa e tal e foi falando e falando. Um tiozão que estava tomando Uísque e não tinha entendido bem toda essa história, caiu na arapuca e mandou: “Então toca Sampa!”. Puta, daí virou um salseiro porque ele levantou e começou a falar mal da Folha de São Paulo. “Falha de São Paulo”, dizia. Ofendeu o cara, falou muito. O Paulinho, que era sócio do Espaço Mambembe estava lá e também viu. Depois sentou e continuou o Show. Tocou Sampa de penúltima música, como devia estar na lista do Show, e pronto. Muito louco. Fraquinho, eu achei.