2003-05-04

Como homenagem ao dia das mães, uma história verídica de minha mãe:

Exame de auto-escola.

Minha mãe chegou outro dia em casa com a famosa pergunta:
- Você acha que eu estou errada?
- Que foi mãe?
- Seu irmão, o Luizinho, falou que eu sou louca.
(Meu irmão, o Luiz, era na época aquela mistura improvável e paradoxal de rockeiro com corte de cabelo de reco, só encontrada em países em que o serviço militar é obrigatório.).
- Sei.
- Ontem eu fui levá-lo para fazer o exame da auto-escola - continuou. Tinha que ir cedinho e era uma fila enorme. Eu deixei ele lá sete e meia da manhã e voltei para casa. Um frio de doer e começou a cair uma garoínha. Fiquei morrendo de dó e pensei: vou levar uma blusa para ele. Como eu sei que ele é enjoado para roupas, peguei umas três japonas, cada uma de um tipo, e uns dois bonés, cada um de uma cor, para ele escolher. Ele devia estar com fome também, daí peguei umas bolachas e fiz uma garrafa térmica de café com leite. Já que eu não sabia quanto tempo ele ainda ia ficar lá, fiz um sanduíche de queijo com bastante manteiga e uma outra garrafinha com chocolate quente. Isso tudo e já era umas nove horas quando voltei e vi que ele ainda estava na fila e nem tinha andado nada de lugar. Parei o carro do outro lado da rua, peguei um boné e a garrafa térmica, um em cada mão, fiz “Pssssiu” e acenei para ele. Nada. Tentei assobiar mas não saiu direito, você sabe. Você acredita que o danado fingiu que não me viu e virou para o outro lado?
- Acredito, mãe.
- Aí eu buzinei e mostrei a bolacha e a japona e as outras pessoas da fila viram que era com ele e devem ter falado com ele, porque eu vi que apontavam para ele e para mim.
- E ele, mãe?
- Nada, só me olhou de lado e me mostrou o dedo com aquele gesto que ele sabe que eu não gosto que ele faça para ninguém. Muito menos para a mãe dele, né?