2004-07-18

Outro dia assisti a entrevista do Decio Pignatari no Jô. Por ocasião do lançamento de seu livro sobre Machado de Assis, Pignatari abordou alguns aspectos peculiares do escritor, tais como seu complexo de inferioridade e sua recusa em admitir suas origens étnicas ou sociais. A questão da escassez de boas biografias em nosso país foi levantada e, como crítica aos acadêmicos das letras no Brasil, Decio afirmou que “o escritor tem método, mas não tem coragem, ao passo que o jornalista tem coragem mas não tem método”. A questão é ampla e dúbia, eu, particularmente, pouco me lixo se o cara era mulato ou afro-brasileiro, já que Machado de Assis é o maior escritor brasileiro. Borges, sobre os biógrafos, disse que em alguns casos é difícil saber se o biografado era mesmo tão grande e o biógrafo tão idiota e enlevado quanto parecia. Ou se o biografado, como não era tão grande quanto deveria, teria forçado o biógrafo a diminuir-se como recurso para engrandecer sua obra. De resto Pignatari teve uma fala entrecortada por pausas misteriosas. Apostos enormes invadiam seu raciocínio que, por vezes, parecia não ser tão bom como deveria. Creio que algumas atitudes de pessoas célebres por sua cultura e destreza podem ser embaçadas exatamente pelo alarde dessa cultura  e raciocínio. Exemplo: quando a mina é muito bonita – e sabe disso – às vezes sucede de ela pegar algo na geladeira, fechar a porta com um dos pés e então fazer uma pausa absurda na cozinha, apenas para poder ser admirada. O fato de alguém ser considerado, ou se acreditar assim, acima da média da inteligência, o que é um pleonasmo de mediocridade, e achar que algumas frases suas merecem um tempo extra para que sejam compreendidas pela audiência ordinária é, de per se, também um problema de retórica. Em determinado ponto da entrevista, Jô, a besta ordinária de sempre, olhando um retrato no plasma, confundiu Oscar Wilde com Orson Wells. Incapazes de reconhecer a similitude das iniciais, já que a oralidade e a tecnologia dos programas de pesquisa on-line em tempo real na tela ofuscavam um anagrama tão simples, embaçou geral. Decio apontou a confusão de Jô como “um lapso estranho”. Este, como sempre que é  desmascarado encerra a entrevista, vacilou um instante mandou o “Conversamos com ...”. Tudo isso para dizer que a questão do “método”, apontada por Pignatari é duvidosa se se aplica a “estilo”, já que muitos jornalistas confessos são escritores e vice-versa. João Ubaldo Ribeiro e Luiz Fernando Veríssimo, por exemplo. Se se aplica à tecnologia, tempo de pesquisa ou acesso a informações, também é questionável, vide a internet que vos fala. Por último, se por método ele quer dizer, foco, tom de narrativa, subjetividade ou algo transcendental do gênero, também é besteira, porque seria injusto para com os repórteres.