2005-12-13

Eu estava com a Meg vendo tv de madrugada, isso em 80, durante a semana só a globo ficava no ar, e só até umas 2 ou 3 da matina. Corujão e tchau.
Pararam o filme, em edição extraordinária do plantão de notícias, anunciando que "um dos Beatles" tinha sido alvejado quando voltava para casa.
Soltaram o filme de novo. A gente se olhou. Um procedimento de rotina, talvez para verificar fontes - naquela era teletipo e telefone - adicionou um suspense a mais na história absurda.
Wood Allen tinha feito um filme em que o personagem principal - um diretor de cinema - era morto por um fã: "Memórias". Lennon tinha recebido uma carta em que era avisado que seria assassinado, leu-a no ar durante uma entrevista. Quem avisara o clarividente era o "espírito" de Brian Epstein. Naquela época não se matava por marketing ou para conseguir mídia. Matava-se só por ódio, vingança ou dinheiro. John havia percebido e usado o poder da mídia, antenado que era, para promover a paz e seus - nossos - ideais de liberdade. Achou engraçada a advertência e leu a mensagem rindo.
Depois de intermináveis minutos de um filme que se tornara totalmente irreal e despropositado, a tela congelou e a voz do repórter - sempre em off - anunciou a morte de Lennon. Puseram o final do filme e em alguns minutos a Tv saiu do ar, ao som da Nona de Beethoven. Saímos na rua, atrás de uma ficha telefônica para ligar para alguém.