2006-02-03
O mestre Ricardo Rizek foi-se dessa para melhor. Para qualquer um dos possíveis 9 céus, ou 7 ou 12. Quem não foi seu aluno jamais poderá entender a dimensão dessa perda.
2006-01-28
músico é que nem benzedeira:
primeiro, vc nunca sabe bem se ele é bom ou estava no lugar certo na hora certa.
Segundo que, independente de ser o máximo, ele pode ser também um santo, um bandido ou publicitário.
primeiro, vc nunca sabe bem se ele é bom ou estava no lugar certo na hora certa.
Segundo que, independente de ser o máximo, ele pode ser também um santo, um bandido ou publicitário.
2005-12-13
Eu estava com a Meg vendo tv de madrugada, isso em 80, durante a semana só a globo ficava no ar, e só até umas 2 ou 3 da matina. Corujão e tchau.
Pararam o filme, em edição extraordinária do plantão de notícias, anunciando que "um dos Beatles" tinha sido alvejado quando voltava para casa.
Soltaram o filme de novo. A gente se olhou. Um procedimento de rotina, talvez para verificar fontes - naquela era teletipo e telefone - adicionou um suspense a mais na história absurda.
Wood Allen tinha feito um filme em que o personagem principal - um diretor de cinema - era morto por um fã: "Memórias". Lennon tinha recebido uma carta em que era avisado que seria assassinado, leu-a no ar durante uma entrevista. Quem avisara o clarividente era o "espírito" de Brian Epstein. Naquela época não se matava por marketing ou para conseguir mídia. Matava-se só por ódio, vingança ou dinheiro. John havia percebido e usado o poder da mídia, antenado que era, para promover a paz e seus - nossos - ideais de liberdade. Achou engraçada a advertência e leu a mensagem rindo.
Depois de intermináveis minutos de um filme que se tornara totalmente irreal e despropositado, a tela congelou e a voz do repórter - sempre em off - anunciou a morte de Lennon. Puseram o final do filme e em alguns minutos a Tv saiu do ar, ao som da Nona de Beethoven. Saímos na rua, atrás de uma ficha telefônica para ligar para alguém.
Pararam o filme, em edição extraordinária do plantão de notícias, anunciando que "um dos Beatles" tinha sido alvejado quando voltava para casa.
Soltaram o filme de novo. A gente se olhou. Um procedimento de rotina, talvez para verificar fontes - naquela era teletipo e telefone - adicionou um suspense a mais na história absurda.
Wood Allen tinha feito um filme em que o personagem principal - um diretor de cinema - era morto por um fã: "Memórias". Lennon tinha recebido uma carta em que era avisado que seria assassinado, leu-a no ar durante uma entrevista. Quem avisara o clarividente era o "espírito" de Brian Epstein. Naquela época não se matava por marketing ou para conseguir mídia. Matava-se só por ódio, vingança ou dinheiro. John havia percebido e usado o poder da mídia, antenado que era, para promover a paz e seus - nossos - ideais de liberdade. Achou engraçada a advertência e leu a mensagem rindo.
Depois de intermináveis minutos de um filme que se tornara totalmente irreal e despropositado, a tela congelou e a voz do repórter - sempre em off - anunciou a morte de Lennon. Puseram o final do filme e em alguns minutos a Tv saiu do ar, ao som da Nona de Beethoven. Saímos na rua, atrás de uma ficha telefônica para ligar para alguém.
2005-11-21
Certamente já ocorreu com alguns de vocês, leitores, de se verem numa situação singular: você viaja no meio da conversa e a pessoa que desabafava para você, um assunto que só interessava a ela, de súbito pergunta sua opinião.
Sem saber absolutamente do que se trata, e sem poder admitir que pensava na moça da mesa ao lado, você de repente está numa sinuca-de-bico. Até outro dia esta era uma situação sem solução, até que meu amigo Neemias, de Natal, grande saxofonista, deu-me a solução.: um par de expressões-locuções que é uma verdadeira panacéia milagrosa. Anote a receita:
Você levanta os olhos, não como se acordasse de um devaneio, mas emergisse de profunda reflexão e diz:
- Que qui é isso?!?
(faz uma pequena pausa e continua resignado)
- Pode crer...
Sem saber absolutamente do que se trata, e sem poder admitir que pensava na moça da mesa ao lado, você de repente está numa sinuca-de-bico. Até outro dia esta era uma situação sem solução, até que meu amigo Neemias, de Natal, grande saxofonista, deu-me a solução.: um par de expressões-locuções que é uma verdadeira panacéia milagrosa. Anote a receita:
Você levanta os olhos, não como se acordasse de um devaneio, mas emergisse de profunda reflexão e diz:
- Que qui é isso?!?
(faz uma pequena pausa e continua resignado)
- Pode crer...
2005-11-15
To: leitor@uol.com.br
> Sent: Sunday, November 13, 2005 1:38 AM
> Subject: Fw: O Gordo e o Magro
>>>>>> O artigo do Dr. Drauzio Varella “O Gordo e o Magro” – Ilustrada E 15, de 12/11 –, ao abordar assunto tão relevante, estabelece um viés de lógica ao mesmo tempo dispensável e inoportuno: segundo o artigo, de abordagem simplista, os obesos são obesos porque têm propensão genética para isso, assim como os magros têm para ser magros. Se, por um lado, pretende desvincular dos obesos a pecha de indolência e falta de vontade, por outro perpetua o preconceito estético e moral ao aconselhar que, quando estivermos em alguma churrascaria, “observemos como os olhos dos gordinhos brilham diante dos espetos.” O artigo, através desse empirismo barato, ignora a brutal propaganda e cruel disponibilidade de alimentos ruins e saturados de gorduras e açúcares dirigida a nossas crianças e à população de baixa renda, por exemplo, e com total conivência dos órgãos da saúde pública. O que não está em seu artigo é que hoje a população, com maior ou menor propensão genética à obesidade, alimenta-se muito mal.
Um artigo escrito por profissional da saúde, mesmo num caderno de cultura, deveria fazer mais do que alardear os progressos científicos da medicina e recomendar visitas a churrascarias. Sua lógica rasteira e superficial é um acinte aos seus próprios colegas e à sua tão nobre profissão.
Não sou médico, sou músico, mas sei que uma boa educação alimentar é a base para uma vida saudável. A afirmação do Dr. Drauzio, transposta para minha área profissional, seria semelhante a um crítico de música afirmar publicamente que hoje se ouve tanta música ruim porque temos mais compositores ruins do que bons...
> Sent: Sunday, November 13, 2005 1:38 AM
> Subject: Fw: O Gordo e o Magro
>>>>>> O artigo do Dr. Drauzio Varella “O Gordo e o Magro” – Ilustrada E 15, de 12/11 –, ao abordar assunto tão relevante, estabelece um viés de lógica ao mesmo tempo dispensável e inoportuno: segundo o artigo, de abordagem simplista, os obesos são obesos porque têm propensão genética para isso, assim como os magros têm para ser magros. Se, por um lado, pretende desvincular dos obesos a pecha de indolência e falta de vontade, por outro perpetua o preconceito estético e moral ao aconselhar que, quando estivermos em alguma churrascaria, “observemos como os olhos dos gordinhos brilham diante dos espetos.” O artigo, através desse empirismo barato, ignora a brutal propaganda e cruel disponibilidade de alimentos ruins e saturados de gorduras e açúcares dirigida a nossas crianças e à população de baixa renda, por exemplo, e com total conivência dos órgãos da saúde pública. O que não está em seu artigo é que hoje a população, com maior ou menor propensão genética à obesidade, alimenta-se muito mal.
Um artigo escrito por profissional da saúde, mesmo num caderno de cultura, deveria fazer mais do que alardear os progressos científicos da medicina e recomendar visitas a churrascarias. Sua lógica rasteira e superficial é um acinte aos seus próprios colegas e à sua tão nobre profissão.
Não sou médico, sou músico, mas sei que uma boa educação alimentar é a base para uma vida saudável. A afirmação do Dr. Drauzio, transposta para minha área profissional, seria semelhante a um crítico de música afirmar publicamente que hoje se ouve tanta música ruim porque temos mais compositores ruins do que bons...
2005-10-29
Os técnicos de futebol Lori Sandri e Émerson Leão irão se enfrentar na rodadade hoje. Mas o duelo já começou extra-campo. Recém-empossado no cargo, Lori desaprova o autoritarismo: “...não precisa gritar para se fazer ouvir: a inteligência é mais acessível que a ignorância.”
No bloco seguinte, Leão, o técnico adversário, filosofa: “Na teoria e na prática tem dificuldades, e no psicológico também.”
No bloco seguinte, Leão, o técnico adversário, filosofa: “Na teoria e na prática tem dificuldades, e no psicológico também.”
2005-10-27
Muito poderia eu distender-me em análises multi ou trans-disciplinares, ou arrogar-me a pecha de descobridor e nomeador de uma nova tendência estética pós-qualquer-coisa. Não. Não o farei. É chegada a hora de passarmos a entender o mundo como ele se nos apresenta. Sem a falsa premissa de que tudo se enraíza num inconsciente coletivo - ou qualquer horizontalidade mental similar -e que somos ilhas no oceano de complexos e alucinações reveladoras. A diversidade não habita apenas e tão somente nossa miserável mente. O mundo é que é diverso e assombrosamente insondável.
Por isso segue abaixo a transcrição fiel da poesia que estava grafada na tampa de uma pizza que me trouxe ontem um motoboy. Eu por certo comeria estas pizzas por toda eternidade sem nunca atentar para a literatura impressa. Mas fê-lo minha esposa, uma dessas implacáveis criaturas observadoras que são quase sempre as mulheres. O cosmos se expressa por si:
"MASCARINO
Pizza-Bar
Mascarino
Máscara retratada na corola das flores;
Mascarino, na mais pura definição científica;
Na busca de elementos de referência;
Pensametos mascarados, transformaram mítica;
Mascarino se transcende e encontra a essência.
A essência extraída é a gastronomia;
Que constitui, e é essencial a vida;
Intimamente ligada a cultura da cidade;
A pizza fez-se querida e mais consumida;
No Mascarino Pizza-Bar;
Arte resgate da história humana;
A máscara como eixo da poesia ritualística;
E a casa como eixo do rito da Pizza!
[seguem endereço e telefone]".
Por isso segue abaixo a transcrição fiel da poesia que estava grafada na tampa de uma pizza que me trouxe ontem um motoboy. Eu por certo comeria estas pizzas por toda eternidade sem nunca atentar para a literatura impressa. Mas fê-lo minha esposa, uma dessas implacáveis criaturas observadoras que são quase sempre as mulheres. O cosmos se expressa por si:
"MASCARINO
Pizza-Bar
Mascarino
Máscara retratada na corola das flores;
Mascarino, na mais pura definição científica;
Na busca de elementos de referência;
Pensametos mascarados, transformaram mítica;
Mascarino se transcende e encontra a essência.
A essência extraída é a gastronomia;
Que constitui, e é essencial a vida;
Intimamente ligada a cultura da cidade;
A pizza fez-se querida e mais consumida;
No Mascarino Pizza-Bar;
Arte resgate da história humana;
A máscara como eixo da poesia ritualística;
E a casa como eixo do rito da Pizza!
[seguem endereço e telefone]".
2005-09-30
o grande mal que aflige a humanidade, nos últimos anos, chama-se "auto-estima". Em nome dela tudo pode e a falta dela desculpa todas as omissões. A auto-estima é imoral. Serve para vender revista feminina e subsidiar a existência vã das pessoas superficiais. É o Paulo Coelho dos psico-empurropatas. Melhore sua auto-estima e compre o que não precisa porque, mesmo sendo um imbecil, você é demais. Os publicitários já perceberam, tem um Banco que bate especificamente nesse tipo de gente. Eu, eu, eu. Você merece um tratamento especial, personalitê, porque é capaz de pagar mais juros só para ter um gerente só para você. Como você é um grande otário, que acredita só em quem te elogia, merece um ladrão particular. Quando sua auto-estima está alta, você trabalha mais tempo para seu patrão, produz e consome mais lixo e entope a humanidade de condescendência, perniciosidade e estupidez.
2005-03-07
2005-02-07
leia matéria do Chico, publicada pela folha dia 26-12-04, dia do Tsunami. clique aqui
2005-01-01
Internet é bom, mas é ruim. Recebi, neste natal, gentis mensagens de amigos. Algumas eram mitificações vítimas dos copy-paste e dos fws. Escritas por poetas de fim de semana, continham assinaturas de gente famosa. Um Fernando Pessoa incitáva-nos a "curtir um sol" e um Drummond de Andrade, falava em "se abrir com os amigos". Auto ajuda do além.
2004-12-24
"A busca da liberdade é a única força que eu conheço. Liberdade de voar pelo infinito. Liberdade de dissolver-se, de elevar-se, de ser como a chama de uma vela, que mesmo enfrentando a luz de bilhões de estrelas permanece intacta, porque nunca pretendeu ser mais do que é: a chama de uma vela."
Don Juan (Carlos Castañeda)
Don Juan (Carlos Castañeda)
2004-12-21
2004-12-13
2004-12-05
Diferença entre professor e educador
Numa escola pública estava ocorrendo uma situação inusitada: uma turma de meninas de 12 anos que usavam batom todos os dias removiam o excesso beijando o espelho do banheiro.
O diretor andava bastante aborrecido, porque o zelador tinha um trabalho enorme para limpar o espelho ao final do dia. Mas, como sempre, na tarde seguinte,lá estavam as mesmas marcas de batom.
Um dia o diretor juntou o bando de meninas e o zelador no banheiro, explicou pacientemente que era muito complicado limpar o espelho com todas aquelas marcas que elas faziam. Depois de uma hora falando, pediu ao zelador para demonstrar a dificuldade do trabalho. O zelador imediatamente pegou um pano, molhou no vaso sanitário e passou no espelho.
Nunca mais apareceram marcas no espelho.
Numa escola pública estava ocorrendo uma situação inusitada: uma turma de meninas de 12 anos que usavam batom todos os dias removiam o excesso beijando o espelho do banheiro.
O diretor andava bastante aborrecido, porque o zelador tinha um trabalho enorme para limpar o espelho ao final do dia. Mas, como sempre, na tarde seguinte,lá estavam as mesmas marcas de batom.
Um dia o diretor juntou o bando de meninas e o zelador no banheiro, explicou pacientemente que era muito complicado limpar o espelho com todas aquelas marcas que elas faziam. Depois de uma hora falando, pediu ao zelador para demonstrar a dificuldade do trabalho. O zelador imediatamente pegou um pano, molhou no vaso sanitário e passou no espelho.
Nunca mais apareceram marcas no espelho.
2004-12-01
DIFERENÇA ENTRE "FOCO NO PROBLEMA" E "FOCO NA SOLUÇÃO"
Quando os americanos iniciaram o lançamento de astronautas, descobriram que as canetas não funcionavam em gravidade próxima de zero. Para resolver esse enorme problema, contrataram a Andersen Consulting, hoje Accenture.
Empregaram 12 milhões de dólares para sanar o problema.
Conseguiram desenvolver uma caneta que escreve em gravidade zero, de ponta cabeça, debaixo d'água, em praticamente qualquer superfície, incluindo cristal, e em temperaturas desde abaixo de zero até mais de 300 graus Celsius.
Os russos, usaram um lápis...
Quando os americanos iniciaram o lançamento de astronautas, descobriram que as canetas não funcionavam em gravidade próxima de zero. Para resolver esse enorme problema, contrataram a Andersen Consulting, hoje Accenture.
Empregaram 12 milhões de dólares para sanar o problema.
Conseguiram desenvolver uma caneta que escreve em gravidade zero, de ponta cabeça, debaixo d'água, em praticamente qualquer superfície, incluindo cristal, e em temperaturas desde abaixo de zero até mais de 300 graus Celsius.
Os russos, usaram um lápis...
2004-11-22
clique para ler o Manifesto dos Escritores ao Ministro Gil, com adendos à iniciativa de se efetivar uma "Política Nacional voltada para o Livro, a Leitura e as Bibliotecas". (super bem escrito).
2004-11-19
CULTURA E SELVAGERIA
Sobre a matéria (Entrevista da 2ª.,F.S.P. Ciência A 14, de 15 de novembro de 2004) publicada sob o título “CEU deveria virar clube para pobres, sugere antropóloga”, no qual é entrevistada a antropóloga Eunice Durham, entendo necessárias várias correções que tentarei sucintamente relacionar. (leia)
Os CEUs já podem ser considerados clubes para pobres, como pretende a antropóloga, por suas atividades serem totalmente franqueadas ao público. Há teatro, cinema, quadras, pistas de skate, oficinas de música, palestras, grupos de teatro, projetos educacionais de formação, aulas de alfabetização para adultos e muito mais. Isso porque o espaço físico é disponibilizado para que a comunidade se organize e proponha suas atividades, além da programação feita pelo D.A.C.R. (Departamento de Arte e Cultura Regionalizada), que gere os CEUs e as Casas de Cultura. Parte da programação musical é feita por Zuza Homem de Melo, por exemplo.
A matéria da Folha, portanto, parte de uma premissa equivocada, para não supor que seja tendenciosa: a de que as piscinas e teatros são destinados a uso exclusivo dos alunos regularmente matriculados. É um erro crasso. Em cada CEU há 3 prédios: o educacional, o cultural e a creche. Não existe, em instância alguma, a obrigatoriedade de ser aluno do núcleo educacional para poder freqüentar o núcleo cultural ou o pólo computacional, por exemplo. Não existe crachá ou carteirinhas. Não há grades, porque quem mora nos locais onde foram construídos os CEUs já tem em sua vida cotidiana suficientes cerceamentos geográficos e sociais. Uma pequena pesquisa na Internet, por parte da entrevistada ou do entrevistador, poderia evitar a situação desagradável de uma antropóloga vir a público, por esta Folha, sugerir algo que já existe. Ou pior, supor a decadência e decretar a falibilidade de algo que sequer entenda.
Durante este ano, a Unidade na qual exerci coordenação musical foi visitada por vários artistas e educadores ligados a universidades federais e estaduais, justamente pela importância histórica e social dessas escolas. Além dos projetos culturais e educacionais em curso, o ambiente do CEU comporta um relacionamento de respeito e solidariedade com as lideranças da região. Quem mora na periferia, e isso parece escapar da análise da antropóloga, estuda, se organiza, reivindica e pensa. Os "imigrantes iletrados", como a antropóloga os classifica, provavelmente se referindo aos migrantes nordestinos, são muitas vezes artistas populares detentores de vasta cultura tradicional e oral que participam e contribuem nas atividades educativas desenvolvidas os CEUs. Como músico sou treinado para ouvir e sentir antes de classificar e dividir. Talvez por isso cause-me arrepios ouvir um jargão antropológico do século XIX destinar pessoas dignas e talentosas a uma vala comum de “pobres, iletrados e resíduos não assimilados, mais facilmente alcançáveis por uma eficiente militância de esquerda” (sic.).
Muito mais do que uma escola ou um clube (o conceito de clube lembra-me a elite britânica do século XIX e início do XX discutindo a colonização dos “selvagens iletrados” da Índia) os CEUs são um centro de convivência e de irradiação de cultura estrategicamente localizados. São uma espécie de correção no mapa paulistano dos investimentos na cultura e educação, herança de seguidas administrações que associaram a pobreza material à ignorância e falta de cultura. Para essa “professora emérita” que parece não ter lido Paulo Freire ou Marilena Chauí lembro também que nosso objetivo não é tirar as crianças da rua e sim tornar as ruas, e a cidade, um espaço mais agradável de se viver. Faço parte de uma comissão que irá auxiliar a transição do projeto dos CEUs para outros educadores do PSDB e gostaria de convidar a dona Eunice Durham para conhecer alguma de nossas unidades e assegurar-lhe que será muito bem-vinda e sairá ilesa e surpresa, porque “pobreza” não é contagiosa
Sobre a matéria (Entrevista da 2ª.,F.S.P. Ciência A 14, de 15 de novembro de 2004) publicada sob o título “CEU deveria virar clube para pobres, sugere antropóloga”, no qual é entrevistada a antropóloga Eunice Durham, entendo necessárias várias correções que tentarei sucintamente relacionar. (leia)
Os CEUs já podem ser considerados clubes para pobres, como pretende a antropóloga, por suas atividades serem totalmente franqueadas ao público. Há teatro, cinema, quadras, pistas de skate, oficinas de música, palestras, grupos de teatro, projetos educacionais de formação, aulas de alfabetização para adultos e muito mais. Isso porque o espaço físico é disponibilizado para que a comunidade se organize e proponha suas atividades, além da programação feita pelo D.A.C.R. (Departamento de Arte e Cultura Regionalizada), que gere os CEUs e as Casas de Cultura. Parte da programação musical é feita por Zuza Homem de Melo, por exemplo.
A matéria da Folha, portanto, parte de uma premissa equivocada, para não supor que seja tendenciosa: a de que as piscinas e teatros são destinados a uso exclusivo dos alunos regularmente matriculados. É um erro crasso. Em cada CEU há 3 prédios: o educacional, o cultural e a creche. Não existe, em instância alguma, a obrigatoriedade de ser aluno do núcleo educacional para poder freqüentar o núcleo cultural ou o pólo computacional, por exemplo. Não existe crachá ou carteirinhas. Não há grades, porque quem mora nos locais onde foram construídos os CEUs já tem em sua vida cotidiana suficientes cerceamentos geográficos e sociais. Uma pequena pesquisa na Internet, por parte da entrevistada ou do entrevistador, poderia evitar a situação desagradável de uma antropóloga vir a público, por esta Folha, sugerir algo que já existe. Ou pior, supor a decadência e decretar a falibilidade de algo que sequer entenda.
Durante este ano, a Unidade na qual exerci coordenação musical foi visitada por vários artistas e educadores ligados a universidades federais e estaduais, justamente pela importância histórica e social dessas escolas. Além dos projetos culturais e educacionais em curso, o ambiente do CEU comporta um relacionamento de respeito e solidariedade com as lideranças da região. Quem mora na periferia, e isso parece escapar da análise da antropóloga, estuda, se organiza, reivindica e pensa. Os "imigrantes iletrados", como a antropóloga os classifica, provavelmente se referindo aos migrantes nordestinos, são muitas vezes artistas populares detentores de vasta cultura tradicional e oral que participam e contribuem nas atividades educativas desenvolvidas os CEUs. Como músico sou treinado para ouvir e sentir antes de classificar e dividir. Talvez por isso cause-me arrepios ouvir um jargão antropológico do século XIX destinar pessoas dignas e talentosas a uma vala comum de “pobres, iletrados e resíduos não assimilados, mais facilmente alcançáveis por uma eficiente militância de esquerda” (sic.).
Muito mais do que uma escola ou um clube (o conceito de clube lembra-me a elite britânica do século XIX e início do XX discutindo a colonização dos “selvagens iletrados” da Índia) os CEUs são um centro de convivência e de irradiação de cultura estrategicamente localizados. São uma espécie de correção no mapa paulistano dos investimentos na cultura e educação, herança de seguidas administrações que associaram a pobreza material à ignorância e falta de cultura. Para essa “professora emérita” que parece não ter lido Paulo Freire ou Marilena Chauí lembro também que nosso objetivo não é tirar as crianças da rua e sim tornar as ruas, e a cidade, um espaço mais agradável de se viver. Faço parte de uma comissão que irá auxiliar a transição do projeto dos CEUs para outros educadores do PSDB e gostaria de convidar a dona Eunice Durham para conhecer alguma de nossas unidades e assegurar-lhe que será muito bem-vinda e sairá ilesa e surpresa, porque “pobreza” não é contagiosa
2004-11-01
Fudeu, o serra ganhou. Apesar de o índice de aprovação da Marta ser mais alto que sua votação. É uma vitória do preconceito e da ignorância. São Paulo volta a ser Sampa, dos discursos afetados e pseudointelectuais. Volta a sua vocação suja, sua política cultural provinviana e caipira, volta ao "sabe com está falando" dos babacas que, no entanto, têm medo de andar na rua com o vidro do carro aberto. Os Ceus das periferias estão tristes, os chefetes e os "auxiliares de gerência", estão felizes. É uma vitória dos feios, que se acham feios, votam nos feios, acham os pobres feios e a cidade feia e perigosa.