2003-06-18

Fui hoje assistir ao Matrix Reloaded. Ruim, infelizmente. Confuso, mal escrito, sem clima - os protagonistas não convencem e os coadjuvantes são uma seqüência de cliches -. Ficou Pedante. Salvam-se as cenas da Rave em Zion. Nossa, cada puta mulher linda. Por isso que as máquinas estão perdendo a guerra. Se eles aprenderem a fazer mulher daquele jeito na Matrix, ninguém ia reclamar. Quero morar em Zion, parece Olinda à noite.

2003-06-14

A Bel era soprano. Novinha, afinada, mulher de músico, meio desligada, mas inteligente, tinha tudo para virar cantora. O Coral do Banco deslanchava e contrataram uma profissional, cantora lírica, para ensinar-lhes técnica vocal, respiração e um pouco de leitura. Incentivada pelos amigos começou a ter aulas particulares com a tal professora. O caminho certo, porque escola de música é fábrica de fracassos. Tudo ia bem, fazia progressos com sua voz, até que um acontecimento insólito afetou drasticamente sua quase carreira. Todos devem se lembrar de quando, num concerto em Americana (SP), o chão do teatro cedeu e engoliu a Orquestra Municipal de São Paulo e parte do Coral Lírico e do Coral do Estado. Ninguém morreu, mas a cena, que até hoje aparece na chamada de “Most Amazing Vídeos” e programas do gênero, é impressionante.
Segunda-feira e Bel chega para sua aula semanal, no apartamento da professora. Não sabia de nada, claro. Porém o telefone não parava de tocar e a professora, ainda dolorida da queda, mal conseguia dar aula. “O que houve?”, perguntou. E a professora começou a contar-lhe. Tudo. Estrondo, silêncio, quinto compasso do Hino Nacional. Partituras, instrumentos, senhoras de longo, óculos e maestro. Os piores pesadelos de Pernalonga e Harvey Comics juntos, em cores e com trilha sonora ao vivo. A Bel de olhos arregalados, o queixo caído perante a narração de quem vivera tudo aquilo. Sim, a professora estava lá, sobreviveu por milagre. De repente, vinda não sei de onde e pelas mãos de qual demônio, aquela vontade de rir. Começou a lacrimejar, ardia por dentro. Já não ouvia nada, aliás tentava não ouvir mais nada porque só aumentava o desejo de rir. Procurava pensar em outra coisa e balbuciava “Nossas” e “Ais” e seu corpo se sacudia. A professora gesticulava e levantava a roupa para mostrar hematomas. E a Bel desatou a rir. Parou, mas foi pior, porque começou de novo mais descontroladamente. Tudo funcionava ao contrário, quanto mais constrangedora a situação ficava, mais ela ria. Rolava, não conseguiu se desculpar. Nunca mais voltou, desistiu da música.

2003-06-13

Como nossa televisão é engraçada. O Talk Show do João Gordo é mil vezes melhor que o do Jô Soares, e sua audiência é mil vezes menor. Não dá para ver o programa da Globo, principalmente quando o Jô finge que sabe alguma coisa de música e sopra aquele flugel. Que puta enganador. A banda se mata para encobrir, mas a gente ouve que ele não afina uma nota sequer. Hoje, no João Gordo, foram os Trovadores Urbanos - dia dos namorados, serestas, romances, sacaram? - o João Gordo não aguentou, os caras mandaram um daqueles arranjos dor-de-barriga, e o João falava: Pô que suplício, que foda, não dá para tocar nem uma musiquinha melhor, não?. Ha-ha-ha. Devo confessar que já paguei esse mico. Uma vez fui fazer uma seresta num esquema "cover" dos Trovadores. Olha a história. Fomos tocar num aniversário de namoro, numa churrascaria. Um Roberto Carlos, um Jobim e, pasmem, uma paródia usando como letra os nomes dos namorados, como se conheceram - no almoxarifado da empresa - e algumas coisas que o violonista perguntara para o contratante dias antes e adaptara na paródia. Profissa. No dia seguinte tinha outra marcada, acho que era uma reconciliação. Ficaríamos escondidos numa sacada de apartamento e, quando a mulher chegasse do cabeleireiro, atacávamos. Era eu, o violonista da noite anterior e um japonês muito ruim de viola. Tem uns caras que você vê que está tocando mas jura que é play-back...
Mesmo durango e sem outro trabalho, liguei meio-dia e disse que não ia. Mandei o Lima.

2003-06-11

Mais uma de cinema: um dos trailers de "Fale com ela", do Almodovar, é de um tal de "Lisbela e o Prisioneiro", brasileiro. Depois coloco os links. No tal trailer, a narradora está numa platéia cinema e, metalingüisticamente, vai falando sobre filmes, sobre closes, trilhas e vários clichês. Tudo que ela fala acontece na tela à sua frente. Determinada hora ela fala da mocinha dos filmes e como, nessa hora, a iluminação capricha numa luz suave, para que a atriz fique bem bonita, etc. O detalhe é que a iluminação do filme é tão ruim que, mesmo nesse momento específico, quando o casal se abraça para exemplificar o que diz a narradora, a luz está erradíssima: um faz sombra no outro e o casal fica com os rostos na penumbra. Uma incompetência incrível. O "Fale com Ela" é mais ou menos, o Almodovar de sempre, muito fru-fru e pouca arte. Mil vezes "Cidade de Deus", seu concorrente no Oscar.